domingo, 15 de janeiro de 2012

Sem Razão

Mentira
me tira
do chão.

Me atira
à ira
ao ódio
o cão.

Pouso
pesado
um pesadelo
a noite
ilusão.

O sonho
o que era pra ser
o que nunca existiu
foi
em vão.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quanto dura?

Quanto dura
minha cabeça dura?

Dura o peso
da pedra que cai?

Dura o tempo de ir
até o fim,
ou até o fim do poço
caindo de ponta (a) cabeça?

Seja o que for, ela aguenta.
Custe o que custar!
Contra tudo e contra todas
as cabeças que vierem em sentido contrário.

No fim, o que dura
É uma dura dor de cabeça.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Shopping

Saltos, bolsas

caras e bocas
sanduíches e bocas
beijos e bocas

As tendências e os presentes.

Sacolas e mãos.

Dadas, só as mãos dos namorados,
o resto é vendido.

Também fui vendido
já posso ir para a casa.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sinestesia

Agora posso te ver
porque os meus olhos enxergam além do horizonte do seu corpo.

Agora posso sentir o seu cheiro
porque meu nariz não conhece apenas o seu perfume.

Agora posso escutar o que você diz
porque meus ouvidos estão distantes da sua boca.

Agora posso te sentir.

Porque sinto, intensamente, o que me escapa por entre os dedos,
mas quase não sinto o que está inerte na palma da mão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dominguante

Nas tardes de domingo não amo,
odeio.
Me odeio
odeio quem eu amo.

Nas tardes de domingo não corro,
nem ando.
Me arrasto
em busca de algo que não sei.

E quando vem a noite de domingo,
me devolver na cara
tudo o que eu não sou
tudo o que eu não consigo
todos os ideais que eu abandonei...

quando vem a noite de domingo,
me trazer toda a felicidade fingida
durante a semana,
as frustrações engolidas a seco
em toda a vida,
as perdas,
as saudades,
os amores que já se foram

ah, é o mar que vem devolver às pedras
os insultos do vento
moldando a pedra firme
como uma massa inconsistente...

ninguém vê
a onda bate, dói.
leva um pouco
traz de volta
e bate de novo
até que a pedra se acabe de vez.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Horse Power

E na cidade rompe a aurora.

Com a velocidade da ciência
ultrapassa a paciência
das cidades de outrora...

Quando a pressa era inimiga da perfeição,
ritmo compassado dos cascos no chão,
um caboclo de vara na mão
era quem dava o tom da condução.

Me segura, radar!
onde eu quero tanto chegar?
corro pra não pensar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Canta, Gonzagão

A voz ainda ecoa saudosa
e melodicamente arrastada
os pés ainda sacodem
a poeira seca do sertão.

Círculos se formam enquanto o triângulo repica.
Replico, suplico.
Não sei se são as notas da sanfona
ou a marcação da zabumba
Qual deles me sustenta?
Qual deles me desequilibra?

Voz, ritmo e melodia
me elevam ao céu e me arrastam pelo chão.
Viro menino e volto adulto,
me apaixono e sinto saudade.

Xaxado, xote ou baião?
Luí, Januário: Gonzagão!