quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sinestesia

Agora posso te ver
porque os meus olhos enxergam além do horizonte do seu corpo.

Agora posso sentir o seu cheiro
porque meu nariz não conhece apenas o seu perfume.

Agora posso escutar o que você diz
porque meus ouvidos estão distantes da sua boca.

Agora posso te sentir.

Porque sinto, intensamente, o que me escapa por entre os dedos,
mas quase não sinto o que está inerte na palma da mão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dominguante

Nas tardes de domingo não amo,
odeio.
Me odeio
odeio quem eu amo.

Nas tardes de domingo não corro,
nem ando.
Me arrasto
em busca de algo que não sei.

E quando vem a noite de domingo,
me devolver na cara
tudo o que eu não sou
tudo o que eu não consigo
todos os ideais que eu abandonei...

quando vem a noite de domingo,
me trazer toda a felicidade fingida
durante a semana,
as frustrações engolidas a seco
em toda a vida,
as perdas,
as saudades,
os amores que já se foram

ah, é o mar que vem devolver às pedras
os insultos do vento
moldando a pedra firme
como uma massa inconsistente...

ninguém vê
a onda bate, dói.
leva um pouco
traz de volta
e bate de novo
até que a pedra se acabe de vez.